Não sendo eu um técnico, ou dominador das artes químicas de transformar o fruto das videiras em vinho, o que me traz, por vezes, uma envergonhada angústia de ficar perdido em explicações mais técnicas, sinto, constantemente, a necessidade de descobrir, em cada vinho, a sua essência, a sua génese. Identificar a sua alma.
Consciente que pode parecer algo filosófico, ou até metafísico, a tentativa de descobrir a alma de um vinho, e admitindo que a simples afirmação, perante a alquimia, que todas as transformações moleculares se podem reduzir a uma simples áurea que um copo de vinho emana, pode reduzir este meu pensamento, a devaneios ridículos, ou ao início da loucura.
Mas, convicto das minhas fraquezas, e empurrado pela vontade de compreender, afirmo, com a convicção mais conformada, que um vinho tem mesmo alma, reduzindo-me, desta forma, à mais humilde e elementar condição de bom bebedor, e aprendiz de conhecedores.
A alma está no corpo e na cor de um vinho. Marcas que a natureza reflecte no copo, a olho nu, no balançar, na inquietude do líquido.
A alma está no nariz, nos aromas do vinho. Naqueles que sentimos e nos outros que nos dizem para sentir, e que, mais ou menos convencidos, acreditamos com toda a certeza, que estão lá.
A alma está no sabor, no palato de quem prova, nas sensações que provoca em cada um dos nossos sensores, em cada um dos cantos da boca. Como se a boca tivesse cantos, argumentarão os mais argutos pensadores.
Sintamos, pois a Alma de um vinho luso. Tentemos, em cada copo, compreender o pedaço de Portugalidade que o mesmo encerra, ou como os sapientes vínicos prosaicamente apelidam, o terroir de cada Região.
É esta riqueza de pedaços, todos tão diferentes, mas todos tão próximos e ligados, que faz, de Portugal, um dos países mais ricos no que ao vinho concerne. Eu diria até, o País mais rico do Mundo dos Vinhos.
Percorremos o país todo, tão rápido, dos Verdes ao Algarve, da Beira Interior à Bairrada, neste Portugal que é tanto d’Ouro e que nunca se envergonha, nem se esconde por Trás-os-Montes. Até porque, como diz o sábio povo, para lá são eles que mandam.
É desta terra de contrastes – da frescura dos espumantes à estufagem dos Madeira, dos tintos, que nos dão corpo, à doçura dos Porto’s, que nos alimentam o espírito – que se constrói esta Alma Lusa, que só os nossos vinhos têm.
Temos esta capacidade, de fazer vinhos que nos trazem, de mão cheia, as gentes de cada Região, e de fazer de cada região um destino. O nosso destino de eleição.
É esta a sabedoria do Enoturismo, juntar a alma de um sítio com a alma de um vinho!