O nome está ligado à fonte que ali foi edificada em meados de Quatrocentos e cujas águas tinham fama de ser medicinais. Em 1911 o topónimo foi alterado para Praça Machado dos Santos, mas mantém-se a tradição, até aos dias de hoje, do uso do nome antigo.
A Fonte Nova está no centro do Bairro do Troino, tradicionalmente lugar onde moravam famílias ligadas ao mar – desde os pescadores aos trabalhadores das conserveiras. Alice Brito, no seu romance As Mulheres da Fonte Nova (2012), escreve que, se a Praça do Bocage é o umbigo de Setúbal, “no caso do Troino, o umbigo é o Largo da Fonte Nova”, dado que a vida quotidiana dos habitantes do bairro passava necessariamente por ali. Era neste local que se concentravam as mercearias (como a Confiança de Troino), barbearias, talhos, as tabernas e casas de pasto. Era ali o ponto de encontro das famílias e o espaço de recreio dos mais novos, que jogavam à bola e brincavam com piões e bugalhos.
Hoje em dia, o Largo da Fonte Nova é um excelente exemplo de que em Setúbal a tradição e a inovação casam bem e vão fazendo o seu caminho lado a lado – deixamos as histórias da Casa Morena, O Nau, da Tasca Kefish e da Mafaria ao Largo.
O Sr. Horário e a D. Fernanda fundaram a Casa Morena em Junho de 1982. Estavam emigrados na Alemanha e quando voltaram abriram a sua casa de peixe assado e petiscos. Escolheram a Fonte Nova porque foi onde nasceu a D. Fernanda e onde morou toda a sua família de pescadores. Aqui tem muitas memórias (ainda se lembra quando passavam carros no Largo) e gosta tanto do Largo que ali escolheu também viver. Diz que não é preciso convencer ninguém a ir à Fonte Nova – basta lá ir uma vez, é impossível não gostar. A D. Fernanda é também uma das poucas mulheres assadoras de peixe em Setúbal. Aprendeu sozinha, a cozinhar para os emigrantes quando esteve fora. Diz que é um trabalho duro, que ninguém quer – mas já está habituada e gosta, não quer sair dali (mesmo com os seus 74 anos, que ninguém pense sequer em sugerir-lhe reformar-se).
Quanto à Cilinha e ao Rui, estão no largo desde 1974, ano em que casaram. Mas o pai do Rui já tinha uma taberna no largo, pelo que a família Nau está presente na Fonte Nova há muitas décadas. A Cilinha lembra as festas de Santos Populares que se faziam no Largo e o ambiente familiar, ligado aos trabalhadores do mar. Ainda é do tempo em que não existira o assador comunitário, que diz ter sido uma grande melhoria. E lembra-se do tempo em que os miúdos jogava à bola até vir a polícia e do preço da sardinha ser um tostão – mas há clientes que ainda vêm desse tempo, mas agora trazem os filhos e, alguns, os netos. Este já não é um bairro de pescadores – chama à Fonte Nova o “Bairro Alto de Setúbal”, algo com um ambiente único e diferente de tudo. Vê com bons olhos as novas casas que têm aberto – diz que assim há de tudo e para todos os gostos. De acordo com a Cilinha, quem não conhece a Fonte, não conhece Setúbal – e refere que o Largo será sempre a Fonte Nova (mesmo ela se esquece que, na correspondência, tem de estar Largo Machado dos Santos).
Na Tasca Kefish, encontramos o Nuno e o Stephane – fazem parte dos habitantes mais recentes do Largo. Quando abriram a casa, quiseram trazer algo de novo, mas honrar a tradição de peixe assado – têm uma carta onde cabem o peixe, mas também pizas, bifes e massas. Acham importante apresentar novas propostas, dinamizar o espaço – com a promoção de espetáculos no verão, por exemplo. Também fazem jantares, o que não acontece com os restaurantes mais tradicionais – e é curioso ver que há tradições muito enraizadas nos nossos hábitos: ao almoço vendem mais peixe, ao jantar os clientes pedem mais pizas. O Nuno é setubalense, mas o Stephane não – mas é um apaixonado por Setúbal no geral, e claro, pela Fonte Nova, que diz ser uma praça cheia de encanto.
O Mário e a Mafalda são também duas novas adições ao Largo, onde abriram a Mafaria em 2018. Escolheram a Fonte Nova por terem ligações familiares ao bairro – a família da Mafalda sempre morou na zona e o Mário, apesar de não ser setubalense, já se sente filho adotivo.
Para além disso, contribuiu para a escolha acharem que este é o sítio mais carismático de Setúbal. O conceito da Mafaria tem vindo a evoluir e neste momento, para além de servirem refeições, apostam na promoção de eventos todos os fins de semana, dando uma animação extra ao Largo. O Mário destaca a excelente relação com os vizinhos, de parceria e amizade, que é extremamente importante para a dinâmica da Fonte Nova. Este é, na opinião do Mário, um local que para além de uma história rica, tem também um futuro risonho.
Terminamos o nosso passeio pelo Largo da Fonte Nova com a visita à Mercearia Confiança de Troino. Inaugurada em 1926, foi recuperada e reinaugurada em 2015, no âmbito das comemorações do Dia de Bocage e da Cidade. Aqui pode encontrar curiosidades sobre a vida de antigamente, sobre Setúbal e sobre os seus habitantes.
No 22º Aniversário da elevação da Gastronomia Portuguesa a Património Cultural, homenageamos a Fonte Nova, os seus habitantes de sempre e quem de novo se juntou a eles. Convidamos todos a juntarem-se a nós nesta festa que é todos os dias a vida na Fonte Nova – mas não se esqueçam: se usarem o GPS para lá chegar, a morada é Praça Machado dos Santos!